Se você passou por aqui mês passado, pode ter se deparado com o post
desativei meu instagram pessoal.
Fiquei sem ele por 11 dias, até que por um descuido, eu cliquei no meu nome e logou automaticamente.
Minha primeira reação foi desativar imediatamente, mas não consegui. Eu descobri que existe um limite semanal para desativar um perfil no instagram. Sim, um limite! Eu fiquei muito chocada porque como assim não posso controlar o que fazer com o MEU perfil???
Depois disso eu preparei um textão pra fazer por lá sobre isso, mas desisti. Desisti porque quem tá por lá não tá analisando os malefícios da rede no cérebro, então resolvi trazer pra cá algumas reflexões.
- O Instagram alimenta FOMO (fear of missing out)
Se você nunca viu esse termo por aí, eu te digo o que é: FOMO é a sensação de estar perdendo as coisas que estão acontecendo, seja o que tá acontecendo na vida dos amigos, eventos, experiências etc.
É um grande medo de ficar de fora das coisas. Como se a qualquer momento a gente pudesse perder a melhor oportunidade das nossas vidas perante alguma coisa. O quê especificamente? Não importa, o medo não escolhe. Ele só existe.
Antes de desativar meu perfil, eu havia tirado as notificações do aplicativo, que era pra treinar ficar sem ele. Então quando ativei novamente elas continuaram desativadas. Foi aí que eu recebi esse outro aviso. E eu nunca tinha visto antes.
Como vocês podem ler, a rede deixa bem claro uma mensagem de possível perda. Vou perder a notificação de quem me seguiu, vou perder a notificação de quem curtiu e/ou comentou em uma foto e também vou perder uma mensagem. Perder. Mas se eu ativar as notificações, vou ficar sabendo de tudo isso imediatamente. IMEDIATAMENTE! Sentiram a pressão das palavras nunca e imediatamente? Eu senti.
A questão é: eu preciso disso? Não. Nem eu e nem você!
E sabe porque eu disse anteriormente possível perda? Por que isso não é verdade. Nenhum dos medos que ele coloca estão sacramentado de acontecimento. Simplesmente nenhum. E mesmo que alguém venha solicitar pra seguir meu perfil, por exemplo, vou ver mesmo que eu entre na hora ou em uma semana ou em um mês ou em um ano depois. A solicitação só vai sumir se a pessoa retirar. E se retirar ainda vai ser bom porque eu nem vou ver. Só vejo vantagens.
Mas é muito fácil brincar com a mente humana usando certas palavras de gatilho. E mais fácil ainda cair nessa quando nosso cérebro já está completamente viciado em dopamina. Ele se transforma num pacman e vive em busca do próximo meme/vídeo/foto/conteúdo imperdível pra sobreviver de migalhas de dopamina ao longo do dia.
- Desativar o Instagram? Um surto!
Foram apenas 11 dias com o perfil desativado, mas deu pra receber mensagens bem desagradáveis. A primeira foi
"estás sem instagram? surtou, foi?". Depois dessa foi um colega que havia feito uma cirurgia há poucos dias, e como eu não sabia da informação,
"postei no instagram, não viste?" ele soltou de forma um pouco rude. Aí depois de informar da desativação veio a melhor frase de todas
"pra ficar com perfil desativado, é melhor excluir logo", o que me levou a falar pra ele um pouco sobre excesso de tela/redes sociais, mas ele riu. Sim, ele riu como se aquilo fosse um absurdo. E foi aí que eu percebi que pra muita gente realmente desativar as redes é sinônimo de surto.
Vi vários tweets usando essas mesmas palavras quando fiz uma breve pesquisa pelo twitter.
Algumas pessoas foram mais sutis que outras, por exemplo, perguntando se tava tudo bem comigo e que perceberam que eu havia sumido do Instagram, afinal, costumo postar bastante srtory, o que fez com que 4 conhecidos de instagram enviassem mensagem quando voltei a postar. E 3 amigos perguntaram via whatsapp porque não estavam me encontrando por lá.
- Ansiedade, desespero, fobia social, excesso de exposição
"Pra quem não consegue dosar o tempo de tela, o melhor é se afastar mesmo e criar uma rotina fora dela", foi um comentário bem interessante que a
Lana deixou no
post anterior. Eu fiquei
reflitona porque eu não conheço absolutamente ninguém que faz isso. Vocês conhecem? Vivemos em bolhas diferentes, mas pra mim parece que tem pouca gente pensando sobre.
Não consegui desativar meu perfil novamente e com isso veio um sentimento de obrigação de postar as coisas. Eu já havia percebido que isso acontece comigo, mas dessa vez foi muito forte. Eu queria postar tudo e toda hora. E postei bastante coisa mesmo porque eu só pensava que iria desativar o perfil novamente em 7 dias, e "tudo bem".
Os 7 dias chegaram na sexta-feira passada (09), e como o planejado, desativei o perfil. E lá veio o app jogar a culpa pra cima de mim porque o motivo da desativação foi "ocupa muito do meu tempo ou desvia muito minha atenção". Ficou aquele amargo na garganta, então só fiz o print e confirmei. Mudou automaticamente pro meu perfil profissional e ok. Isso foi pela tarde.
Na noite do mesmo dia eu percebi que meu perfil ainda estava com a fotinho, mas fui dormir. Na manhã seguinte abri o instagram e vi que minha foto ainda estava aparecendo. Fui na pesquisa e vi ainda estava encontrando o perfil. Mas eu desconfiava que podia ser algum bug, então pedi pro meu namorado ver se ainda mostrava pra ele e esperei algumas horas, mas o perfil não sumia e eu tava com medo de mudar pra ele e acontecer tudo de novo. Esperei até a hora do almoço e não sumiu, foi quando desisti de tudo e acessei ele.
Pra minha surpresa, ele não foi desativado, mesmo que tenha sido tudo confirmado no dia anterior. Não sei o que aconteceu. Só sei que ele me impediu novamente de desativar por conta dos 7 dias, que ele resetou por algum motivo. Mas assim que esse post sair o perfil já deve estar desativado porque terão passado os 7 dias exigidos.
Não poder escolher quando vou desativar meu perfil me deixa com muita raiva. E ao mesmo tempo tenho uma vontade enorme de postar as coisas. Isso me fez pensar que pode ser algum tipo de "sequela" de um cérebro prejudicado pelos malefícios das redes sociais. Mais alguém aí sente vontade de postar tudo ou quase tudo?
Pra mim faz sentido a teoria que criei (sim, uma teoria, visto que não fui pesquisar nada sobre pra tentar entender). Faz sentido porque mencionei no post anterior sobre a sensação de que a minha vida são as coisas que acontecem online, as coisas postadas nas redes. Aliás, não NAS redes, mas NA rede instagram. É só esse lugar que me buga. E eu ainda não sei exatamente o por quê.
Acompanhem esse relato no Reclame Aqui aonde a pessoa passou pelo que aconteceu comigo, de logar rapidamente. Percebam no texto como ele ficou realmente afetado com a ativação do perfil, tanto que fala abertamente estar desesperado e ansioso. Eu não sou a única e ele não é o único. E eu não vejo pessoas ao meu redor falando sobre, mas eu percebo através dos posts quando tem algo errado na vida de alguém. Porque sou profissional? Sim, sou profissional em sentir um incômodo grande com o instagram há muitos anos. Percebo que outras pessoas sentem que tem algo errado, elas só não perceberam ainda. Mas a partir do momento que a gente acompanha pessoas diariamente no instagram, tem como conhecer bastante através do modo espectador. Então quando um low profile começa a postar 5 stories por dia, fica bem claro pra mim que ele não tá bem.
Eu tô no meu terceiro perfil no instagram. Já aconteceu outras duas vezes daquele lugar me deixar maluca e eu, sem entender direito na época, só excluía os perfis. A última vez que aconteceu foi em 2017. Fiquei uns 8 meses sem perfil pessoal, até que criei o atual em 2018. Desde então eu tento usar de forma diferente, começando por ele ser privado. Percebi que me incomoda o fato de desconhecidos e/ou conhecidos de vista virem me seguir. E a partir do momento que eu passei a controlar isso, surgiram outras coisas, como por exemplo, cobranças de ex-colegas de escola pra que eu os aceite no meu perfil. Acontece que aquele perfil não é só um perfil. É um local seguro (teoricamente) pra eu mostrar pro mundo algumas coisinhas da minha vida. Então a partir do momento que eu deixo alguém que me conheceu em 2004 ver as coisas que eu coloco, me vem um gatilho forte. Aquela pessoa não me conhece, ela só conhece a Camila de 2004. O que parece dar margem pras pessoas me falarem coisas do tipo "nunca imaginei que tu gostavas de X coisa" ou até um otário responder um story com "tá tomando vinho com gelo? Que absurdo! Não é assim que se toma vinho". E esse é o lance: a exposição dá margem pras pessoas acharem que podem te falar qualquer coisa. Qualquer coisa.
- O que eu quero ganhar com isso
Eu sei que muita coisa citada aqui não incomoda os outros. E na maioria das vezes quando exponho isso, não tem um pra se compadecer. Mas dessa vez tá tudo bem. Agora eu sei que sou eu por mim, e é isso que tô tentando fazer. Me sentir o melhor possível quando estiver naquele lugar. Ainda mais porque isso não é novo na minha vida.
Encontrei esse tweet falando da confusão com a realidade, que é o que acontece comigo, e eu espero muito me livrar disso. Quero ver benefícios reais ficando longe de lá, então deixo essa pequena lista de 10 coisas que mudaram na vida dessa pessoa que encontrei pelo twitter, e espero assim me motivar a ficar longe de lá.
Como esse ficou longo, me veio a ideia de fazer posts separando os assuntos. Até porque eu sinto que esse pode ter ficado meio confuso, já que eu só sentei e escrevi. No próximo post eu mostro as coisas que fiz no offline.