segunda-feira, 31 de março de 2025

// um grande passo na minha jornada de autoconhecimento (recheado de referências dos anos 2000)


Eu tava assistindo ao vídeo acima quando a ficha caiu. Ficou bem óbvio que meu problema em achar que tô sendo observada/julgada (já mencionei isso em alguns posts) o tempo todo vem de uma necessidade de validação. E por mais óbvio que seja agora, não era até meia hora atrás.

Tudo começou bem cedo, me lembro agora. Nada que eu gostava era bom o suficiente pra minha mãe/família aceitar. Lembro que aos 10 anos gostava muito da banda The Calling, e minha mãe aceitava o som, mas as coisas mudaram completamente quando completei 11 anos.

Em 2003, tive acesso a MTV. Um mundo novo e cheio de descobertas se abriu pra mim. Lá conheci muitas das bandas e artistas que me acompanharam durante a adolescência, como blink-182, Green Day, Linkin Park, Avril Lavigne, Nirvana, Foo Fighters, Good Charlotte, My Chemical Romance... Eu tava entrando na pré-adolescência e cultivando meus gostos próprios. O primeiro baque veio quando pedi pra minha mãe o álbum novo do LP, Meteora, e ela sem saber do que se tratava, comprou. Um pirata, claro. Um novo custava em torno de 20 reais, o que era muito caro.

Ela já conhecia a música Faint, porque fazia parte da trilha sonora da novela Mulheres Apaixonadas. Mas quando ela ouviu o álbum todo e percebeu que se tratava de uma música beeem diferente do pacato The Calling que eu vinha escutando, começou uma jornada de julgamento sem fim que dura até hoje. "música de doido e drogado", ela fazia questão de falar bem alto pra toda a família ouvir. O plot twist triste de ouvir LP, é que se eu ou ela soubéssemos inglês na época, perceberíamos que as músicas se tratavam de um grande pedido de ajuda de alguém que sofreu com depressão... mas isso é papo pra outro momento.

Esse comportamento se espalhou pra toda a família, o que não foi difícil nem demorado. A casa da minha família é uma daquelas em que mora todo mundo junto e amontoado, sabe? Cada um dos 5 filhos com um cantinho separado no quintal. Eu passei a ser a maior adolescente-rockeira-rebelde de Belém do Pará simplesmente porque ouvia as bandas citadas acima. Que hoje em dia, sabemos que não são pesadas nem nada.

Corta pra minha vida na escola a partir de 2005: sem amigos ou amigas que compartilhavam meu gosto. Apenas criticavam. Até tive uma amiga que curtia My Chemical Romance comigo, mas logo ela mudou de escola e eu segui a vida sozinha. Amigos homens só serviam pra brincar no intervalo. As minhas amigas gostavam de Rebelde. Eu gostava de séries estadunidenses. As minhas amigas queriam ir pro shopping pra conhecer meninos. Eu queria brincar com os meninos KKKKKKKKKKKK. As minhas amigas só assistiam filme de comédia romântica. Eu só assistia terror. As minhas amigas liam Capricho porque gostavam de moda e maquiagem. Eu lia Capricho por causa da coluna de comédia da Jana Rosa e a de música do Lúcio Ribeiro. Eu gostava de jogar video game com meu irmão do meio e o irmão da minha melhor amiga da época, e por aí vai.

De repente o papo ficou meio pick me girl, mas não é isso. O lance é que eu não tinha gostos """femininos""". Não que hoje eu não goste de moda, maquiagem, fofoca e tais assuntos "femininos", mas é que eu era duramente criticada por ter os meus outros gostos, para além do que "uma menina média costuma ter". E nem eram coisas tão absurdas tipo ser gótica em Belém do Pará e usar só preto num sol de 32ºC. Parece que as coisas aconteceram num tempo diferente pra mim nesse quesito """feminino""", sabe?!

Corta pra 2008/20099, o ano do vestibular, e adivinha? Criticada porque escolhi estudar publicidade e propaganda. Criticada por sentar no fundo da sala no ultimo-ano-da-escola-que-define-sua-vida. Chegou o final do ano e eu nem participei da festa de formatura por já não aguentar ninguém da turma. Estudei por 8 anos na mesma escola, então todo mundo se conhecia há muito tempo. Tempo demais pra viver sendo criticada na escola, e em casa. Enquanto isso em casa até o meu jeito de falar "bom dia" era um problema. Eu fui me podando até não ter mais nada externamente. Comecei a faculdade em 2010, fiz um amiga que só estudou um semestre comigo kkk e a vida seguiu sempre meio baixo astral. Me encontrei em lugares como Tumblr e Last.fm, fórum de fãs de blink-182 e nos blogs que tive nessa época. Mas não na vida real. Não, pelo menos, até descobrir a encadernação artesanal, mas isso é papo pra outro dia.

Enquanto acontecia as coisas que contei, eu me tornei uma pessoa extremamente insegura e frustrada. E no começo achava que era timidez. Hoje sei que não é. Eu não tava associando todas essas coisas como causa e consequência. As coisas só pioraram na faculdade, porque se crianças são terríveis, adultos são tão ruins quanto. Me cerquei de pessoas que me apunhalaram pelas costas depois de uns anos. Pessoas que frequentavam minha casa, comiam da comida da minha mãe, dormiam quando precisam estavam me criticando por trás, e até inventando coisas muito sérias sobre a minha pessoa. Definitivamente as coisas não melhoraram quando eu saí da escola.

Eu não sei o texto tá fazendo sentido no quesito linha do tempo e conexão de acontecimentos/pensamentos, mas eu cheguei nessa conclusão porque ainda sou muito insegura com todo tipo de coisa que faço, inclusive com o blog (que é só um hobby e não tem obrigação nenhuma de ser perfeito). E essa insegurança, que até hoje cedo achava ser porque me importo com a opinião alheia, é, na verdade, necessidade de aprovação alheia. Não mudou muito o problema, mas me ajudou a entender um pouquinho mais.

Quando ele fala no vídeo sobre criar coisas pra si e não pros outros, me pega de um jeito absurdo. Eu não consigo criar nada sem imaginar como vai ser a reação das pessoas quando eu postar. E muitas vezes eu nem quero postar, mas o pensamento surge. Eu sinto vergonha de muitas bandas que escuto. Sinto medo de compartilhar gostos e serem criticados. E vejo que não consegui criar confiança pra muitas áreas da minha vida porque pra criticar tinha 10, mas pra falar um "legal" tinha zero. Eu já tive um pensamento parecido uns anos atrás, mas havia chegado na conclusão errada. Achava que era meu ego pedindo aplausos, mas agora tá bem claro que não. Eu não aprendi isso porque nunca me ensinaram. Tanto que eu não sei lidar com elogios, e isso deve ser outra consequência disso. Normalmente quando elogiam meu trabalho, eu puxo uma lista de problemas. 

O mais louco em tudo isso é que não almejo ser conhecida por algo que criei, simplesmente porque nem tenho confiança de que é algo bom. Como posso ter esse pensamento ao mesmo tempo que sinto a necessidade de aprovação? Essa parte ainda não entendi.

Edit:

Tá, tem UMA coisa que eu não me importo se vão pensar x ou y, que é meu bullet journal. Então parece que nem tudo tá perdido, posso começar a focar no bujo pra curar essa ferida interna e criar confiança. Aprender a me curar sozinha. Ou na terapia, quando eu voltar. 

segunda-feira, 24 de março de 2025

// BuJo março: e se a inspiração já estiver aqui dentro?

post de 18/08/2017
Em algum momento de 2024  eu "inventei" de fazer um estilo de letra pra escrever. Usei em várias situações, e um amigo até comentou que havia gostado; eu tava bem feliz com minha "criação". Mas a pergunta "de onde eu copiei essa letra?" tirava meu sono.

Sim, porque eu sabia que apesar de ter "inventado", o mais provável era que eu tivesse visto o tal estilo de letra em algum vídeo e/ou foto e guardado no subconsciente até que inconscientemente ele me mostrasse novamente, fazendo eu achar que criei aquilo. Uma armadilha do cérebro que acontece bastante quando se consome muita coisa pra estudo. E já aconteceu antes comigo. Então eu não tinha fé em mim.

Foi procurando por referências de tema pro bujo de março que acabei encontrando um post de uma encomenda de encadernação que fiz em 2017 e BOOM lá estava a letra!!!

a letra fica assim quando faço com caneta brush

O meu choque foi inevitável. Aparentemente eu que criei sim (!) essa letra ???? Claro que não descarto a possibilidade de ter muitas inspirações e referências externas, mas olhando pra foto consigo lembrar a linha de raciocínio pra criação da letra pra essa capa específica. Eu só queria fazer algo diferente misturando letras minúsculas e maiúsculas. E foi a partir desse mesmo pensamento que cheguei à letra que comecei a fazer ano passado. É a mesma letra, só que agora costumo fazer um pouco mais estilizada e também com caneta brush.

Esse acontecimento resultou em uma grande força-tarefa pra me stalkear e procurar por mais referências. Foi assim que encontrei a foto ao lado, me encantei, escolhi o tema espaço pro bujo de março e cheguei na seguinte reflexão: e se a inspiração já estiver aqui dentro? 

Tá certo que a resposta veio antes mesmo da pergunta existir, afinal, eu encontrei inspiração nas minhas criações do passado. Mas a reflexão continua sendo muito válida. Atualmente me encontro em um momento muito delicado de baixa autoestima e, frequentemente, tô duvidando do meu potencial e/ou criações. Tá acontecendo em todas as áreas da minha vida,  de tão séria que a coisa tá.

Esse acontecimento veio pra elevar, de certa forma o pouco de autoestima que ainda me resta. E  foi tão poderoso que já inspirou a criação de várias páginas do meu art journal. Às vezes a gente só precisa relembrar de coisas que nos deixaram orgulhosas no passado pra começar a, enfim, criar. Ou melhor, eu preciso lembrar disso, porque costumo achar que preciso estudar mais, assistir mais vídeos, e ver cada vez mais fotos de referência. E se eu simplesmente começar?

capa de março :D

Toda a parte em preto eu fiz com nanquim líquido e vocês podem ver tudo no vídeo: